Tudo começou com sonhos, idealizações de uma realidade ainda não vivida, assim como a nostalgia daquilo que ele nunca havia sequer vivenciado, e no meio do turbilhão que minha vida se tornou, pensei: agora só falta você. Tomou conta de meu corpo e minha mente, incendiando meu coração como o fogo, e na clareza da chama, tracei meu caminho.

Não imaginei, nem um pouco, quantos obstáculos estariam no caminho, e como se tornariam difíceis de ultrapassar, quantos conceitos e pensamentos eu iria ressignificar. Mesmo assim segui em frente, era o único vício que eu precisava para me manter são. Eu o senti em meu sangue, como se fizesse parte de minha própria biologia, descobrindo como me enganei durante tantos anos pensando que sabia ser diferente. Me encontrei em um mundo afogado, um substituto para o amor que, mais adiante, floresceria.

Com o tempo me questionei, é amor? Pra mim, para ele? O que é isso? Deixei-me balançar pelas batidas de meu coração, embora parecesse que nunca alcançaria meu objetivo, como se estivesse perseguindo carros, mas que quando colidissem um contra um, na infinita busca de encontrar um eixo em suas extremidades, conseguiriam estar finalmente, juntos?

E nas linhas do seu coração, descobri que não existia um caminho para mim, mas como abrir mão de algo tão icônico em minha vida, que trazia um ecstasy surreal entre você e eu? E jogado aos seus pés, continuei me deixando levar pelo vento que a canção da tempestade tocava, e no ritmo dela fui levado para algum lugar desconhecido.

A música lenta nos envolveu como chuva em um dia ensolarado e ainda bem que você estava aqui, no seu corpo senti o calor que precisava para me aquecer, me sentir acolhido, porque eu estive com pressa, correndo em descompasso esse tempo todo. E ao enxergar as cores do seu amor, elas queriam nada mais que tudo se mantivesse simples.

Com o tempo, o passar de todas essas emoções e pensamentos, será que eu quero saber onde podemos chegar? Pois eu bem sei que muito em breve essa etérea ligação pode se perder repentinamente e nossos problemas se tornarem um fardo, e esse jogo que diferente dos video games, eu não poderei voltar atrás.

Não quero me tornar uma solitária anêmona, isolada no fundo do mar, ou nada maleável como o telúrio, firme em forte em sua forma rígida. O cuco do relógio toca enquanto eu penso em você, talvez eu seja muito doce, deixando a razão se esvair pelos meus dedos como correr sem destino no meio da madrugada, lembrando de sussurros despreocupados que digo pra mim mesmo, tentando me convencer de que tudo vai dar certo, afinal, a vida simplesmente não tem um porquê.

E nessa estrada de melodias que contam o trajeto de um coração solitário, me resta estar só.

Hoje a melodia não toca, o pensamento não acontece e a decisão não se concretiza.

Eu só quero a lenta consideração das coisas silenciosas.