Começar

O adormecer.

Um refúgio natural para os tormentos da consciência desperta, uma necessidade permanente de sua silenciosa profundidade. Nele, os pensamentos deixam de trilhar caminhos predeterminados e se lançam, indomáveis, no vasto território da imaginação. É nesse abandono que ousamos sonhar.

No reino dos sonhos, a verdade dissolve-se como névoa, e a mente flutua irrefreável por paisagens que outrora, pensavam-se impossíveis.

A razão, frequentemente celebrada como o farol que nos guia à conquista do tangível, cede espaço ao amor desmedido e insensato, aquele que, em sua loucura serena, se revela o mais puro e sincero. Nesse estado, as barreiras do racional começam a ruir, o romantismo se ergue como uma prazerosa possibilidade de se viver.

É na intensidade da emoção presente, no suspiro que irrompe de nossos pulmões, na efervescência de nossos anseios, que nascem os sonhos despertos. O coração pulsa como tambor inquieto, a respiração ofegante em frente ao desejo que se desponta, inadiável. Lançamo-nos, sem reservas, ao encontro do perigo desconhecido, e é nesse arrojo que, finalmente, nos sentimos completamente vivos.

Quando a razão se estabelece, a fantasia se enfraquece. A emoção dissipa-se como vento fugaz, na planície árida dos corações aflitos. Sinto saudades da juventude, daquela primavera interior em que os campos férteis da imaginação resguardavam um sonhador incansável.

Oh, ser pensante, permita-se viver na imensidão de sua imaginação. A faculdade mais incrível de sua consciência.

Quantas maravilhas criamos enquanto a mente, liberta, corre livre para longe? Os olhares sonhadores nos levam para colinas vastas e abundantes, onde o vento carrega, como oferenda, a melodia que ressoa com louvor, de encontro aos ouvidos dos amantes. Estes, enredados em seus próprios devaneios, dançam. Sem pudor, sem razão, entregues aos seus sonhos mais inatos de pertencimento.

E quando o manto da noite se estende sobre nós, adormecemos. Adormecemos porque a realidade, em sua crueza implacável, nos esmaga com o peso da razão. O sono, então, torna-se um alívio, um refúgio onde podemos ser, finalmente, nós mesmos.

Nos sonhos, habitamos o que nos é negado no estado desperto.

Então nos permitiremos sonhar acordados? Ou continuaremos a ansiar pelo sono que nos acomete toda noite, até que o sonho eterno nos acolha em seus braços, pelo fim de nossos dias?