Começar

Houve um momento em sua vida que ele se moldou, se moldou tanto que perdeu seus traços, se tornou o reflexo da personificação de quem lhe amava, mas será que te amava tanto assim mesmo? Se amasse pelo o que ele era, não exigiria tanto que fosse outra pessoa, o aceitaria por si mesmo.

Mesmo assim ele se dispôs a ser esse reflexo, não é como se tivesse sido um pesadelo, ele não se tornou um monstro, até encontrou prazer em algumas coisas que nunca pensou antes, mas ele deixou seu cerne para trás e isso não era justo consigo mesmo.

Ao fim de tudo isso ele exigiu, em meio ao sofrimento e extrema insegurança, que àquele que o amava, se moldasse à si também, em vão, porque seu esforço em agradar não foi retribuído. Foi desolador, de fato, pensar que se esforçou tanto para isso, porque a partir daquele instante, não haveria mais a soma de duas pessoas, precisava ser subtraído.

Após o sofrimento que teve, que não foi pouco, foi extremamente intenso e real, a dor era muito real, ele começou a se encontrar, mas dessa vez não voltou ao que era, se permitiu transcender, ser melhor pra si mesmo e pra todos aqueles que estavam ao seu redor, nesse momento ele seria alguém de quem se orgulhasse.

Admitiu que estava equivocado em algumas de suas convicções, nada foi em vão, serviu de reflexão pra mudar sua forma de olhar o mundo, nunca é tarde pra se permitir ser leve e encontrar seu próprio equilíbrio, ele conseguiu.

Foi quando começou a lembrar de tudo que foi bom e pensar que poderia ter aproveitado muito mais cada momento de prazer se deixasse de lado os dramas, as críticas e as cobranças.

Percebeu que pra oferecer algo, não precisava receber em troca, porque cada instante que escolheu viver aquela emoção, ele já estava ganhando algo, eles estavam juntos e poder viver aquilo era incrível o suficiente pra não precisar de nenhuma outra resposta idealizada por si mesmo.

Quando se apaixonou de novo, por uma outra pessoa e colocou todas essas reflexões em prática, nunca mais se arrependeu, ele nunca mais deixou de ser ele mesmo e desde que não abriu mão de quem era para agradar, não precisava exigir, muito menos cobrar, porque também aceitava essa pessoa como ela era, e se não aceitasse, ambos tinham a opção de partir, se ficaram foi por escolherem assim.

Suas escolhas se tornaram totalmente suas, ninguém era obrigado à corresponder suas necessidades, nos ombros de mais nenhum ser vivo seriam colocados os pesos de seus próprios medos, lutaria até o fim consigo mesmo sabendo que nunca estaria sozinho, sempre teria uma mão para acalmar seu coração, um abraço para te confortar e um recanto para adormecer, longe de tudo que te atormentava.

Mas lutar, ele lutaria sozinho, ninguém poderia colocar seus monstros para descansar, se não ele mesmo, seu cerne, seu equilíbrio e sua paz não poderiam ser concedidos por outra pessoa, de forma externa, se eles sempre irão existir dentro de si mesmo.

Agora ele sorri, porque quando se olha no espelho, não enxerga nada além de quem gostaria de ser, de quem se orgulha e vai caminhar sorrindo pelo resto de sua vida por encontrar o tesouro escondido por detrás de seus olhos.

E isso, ninguém mais pode tirar dele.