Começar

O dia estava nublado, uma leve garoa caia do céu e eu me sentia como cada uma delas, caindo, despencando, até que eu atingisse o solo, desfazendo-me, despedaçando-se. Cada impacto com o solo era uma lembrança, uma cobrança, até que essa explosão de sentimentos se tornasse insuportável. Às vezes, eu enxergava um raio de sol em meio às nuvens e seu sorriso era o arco-íris que se formava no céu obscuro de minha mente, por um momento, o atrito das gotas de água se dissiparam e eu podia sorrir com você.

Eu ouvia vozes e flashes como se o mundo dependesse de mim para continuar girando, o Sol já havia ofuscado quase todas as nuvens escuras, e eu sentia seu calor exalar de minha pele, mas as vozes continuavam e o que poderia ser um lindo dia ensolarado, começava a queimar meu corpo, era demais para suportar. Eu ouvia minha família pedindo que eu conseguisse suportar a dor por eles, mas somente seu sorriso me fazia aguentar.

E eu tentava, todas minhas lembranças faziam com que eu quisesse continuar seguindo em frente, mas era mais forte do que eu mesma, talvez essas imagens fizessem sentido para quem me rodeava, mas minha dor era tão intensa. O Sol precisaria ir embora antes que eu queimasse e derretesse ali mesmo, um aglomerado de tudo aquilo que eu fui e tentei ser até agora, uma grande poça do que um dia eu tentei fazer de mim mesma.

A água escorria rio abaixo, encontrando o resto do que sou, o rio seguia incontrolável seu caminho pelo meu corpo, essas lágrimas ardiam meu rosto, com a culpa do que eu nunca pude ser por todos aqueles que me amaram um dia e eu também amei. Te amei tanto que você se tornou meu eixo, você e só você se destacava das lágrimas que meu céu derrubava contra meu ser, minha mente não conseguia encontrar uma forma de fugir sozinha.

Na imensidão de mim mesma, meu oceano se criou, e nele eu flutuei sem destino, por tanto tempo eu nadei sem saber para onde ir. Você me levou para outra dimensão, até que eu me vi caindo novamente em minha grande solidão, e quando voltei eu não encontrava mais motivo para permanecer na superfície, as lágrimas fizeram desse lugar um mundo inescapável, a escuridão tomava tudo o que estava à minha volta e eu passei a me afogar, lentamente submergindo nessas ondas furiosas.

E então nos flashes que passavam por de trás de meus olhos, eu enxergava na frente deles somente o desespero que era respirar, aos poucos sufocada eu apenas ergui meus braços de encontro com o desconhecido, daquela pequena faísca momentânea de prazer, de falta de propósito, a leve inexistência do sentido fez mais sentido que essa eterna vida sem motivo, feita de uma areia movediça infinita, sugando-me, levando-me e tudo estava se extinguindo lentamente, até que eu ia perdendo minhas forças em tentar me compreender e finalmente inexistir.