Começar

A escuridão havia tomado todas as terras do mundo, um eterno breu se pôs sob todos nós, era como se a vida tivesse se apagado junto, o que nos conectava se dissipou e restou somente a solidão, sufocante em sua essência, desesperadora por sua companhia das sombras.

Uma monotonia se estendeu ao longo de nossas vidas, foi tão forte que não conseguimos seguir em frente, diante do medo provocado pelo invisível nos sentimos amordaçados, privados de nossa existência, de tudo aquilo que nos faz mais vivos, a conexão de se viver em comunidade com esses outros vários seres humanos, perdidos e encontrados todos os dias.

Reinventamos toda nossa forma de viver, nos conectamos da forma mais abstrata que havíamos criado e ela nos salvou, nos fazendo perceber que a excessividade de sua existência nos sufocava amargamente, e mesmo que fosse um ponto de fuga, não era possível viver dessa forma.

Alguns se envolveram na empatia, compreendendo a necessidade do outro, fora de si mesmo. Outros não conseguiam se privar pelo outro, seu ego centrado em si mesmo era tamanho que contemplar a necessidade de uma união se destacava da sua própria realidade. Todos diferentes na essência que é ser humano, vivendo de diversas filosofias e falsas verdades, apegados a crenças pessoais, foram se mantendo, até que não existisse mais nada em que se segurar.

A ansiedade, que antes era construída em volta da urgência de estar presente, se fez presente na ausência do que não se podia ter, fomos guiados pela inércia de nossas obrigações. Alguns se arriscaram e conquistaram tudo aquilo que queriam, sem abrir mão do agora. Outros se arrependeram, choraram sobre o gelo quebradiço que se despedaçaram sobre seus pés. E ainda tinham aqueles que abriram mão de tudo por um ideal, acreditavam e amavam tanto que poderiam esconder toda amargura que estavam lhe acometendo.

E no fim, nada mais do que o fim, estava sobre todos nós. Ele sempre foi irrefreável e por mais que lutássemos para sobreviver, nos esperava, abria seus braços para que nos encontrasse, colidisse conosco e nos levasse para o desconhecido. E dessa escuridão permanente, em meio a todas nossas diferenças, nosso único objetivo era desaparecer, como se nunca houvesse existido. E de nós, sobraria a memória, cultivada pelos que ficaram, nossas histórias iam se dissipando e sendo substituídas por novas histórias de outros que viveriam tão gloriosamente como nós.

Aqui eu deixo minha despedida, de uma época onde o ódio era presente e a solidariedade lutava contra ele, os opostos existiam em uníssono, como duas forças muito grandes que colidiam diariamente, o ego andava de mãos dadas com a empatia e eles sorriam um para o outro.

Eu sinto que não pertencia, mas sigo em paz, sem me arrepender do que fiz porque a vida sempre foi misteriosa o suficiente para sequer eu contemplar se poderia ter feito melhor.