Acará me observava com medo, nunca tinha presenciado esse meu lado antes. Eu me tornei selvagem, meus sentidos se confundiam, minhas emoções me tomavam, eu não conseguia me conter.

Como um animal eu cheirava Acará com tamanha voracidade, lambia seu corpo para sentir cada sabor que possuía. Meus olhos, fixos em seu corpo, como um animal predestinado a possuir sua presa, não se desviavam. Eu não poderia me conter de forma alguma, sentia como se meu corpo tivesse vida própria e me impulsionava para meus desejos mais internos. Nada poderia ser feito por mim, que nesse momento, somente poderia observar e me entregar à esses impulsos.

Um turbilhão de pensamentos invadiam minha mente, não conseguia pensar racionalmente. Um aperto pressionava contra meu peito, meu coração aflito parecia querer pular para fora. Eu só queria gritar, exaltar todas essas emoções da forma mais visceral possível. Era insuportável sentir essa aflição que me consumia por dentro.

Histórias nunca contadas antes, emoções sentidas além de mim. Inseguranças e medos que não me pertenciam. Vontades que após serem vivenciadas através do toque, nunca mais irão embora. De forma vívida e clara, eu me sentia viver todas essas vidas que um dia eu pude contemplar através de minha conexão. E em um momento de loucura, uma explosão de emoções.

Você, ainda com medo, tentava me acalmar. Enxergava em meus olhos o desespero que eu passava. A palma direita de sua mão pressionava contra meu coração, que pulsava em descompasso. Acará cantava uma cantiga há muito tempo esquecida pela humanidade, essa melodia trazia forças terrenas que a natureza nos agraciou. O calor que seu toque emanava e a serenidade de sua voz, iam de encontro comigo como se estivesse me resgatando de um abismo. Oh, Acará, seu toque era minha salvação, sua presença meu acalento, sua voz meu destino.

Quando seu calor atingia dentro de mim, eu me entregava para esse conforto que ninguém mais poderia me dar. Em seu colo, eu respirava cada vez menos ofegante, e como nos meus primeiros momentos de minha vida, eu estava totalmente vulnerável. Assim adormeci em seus braços.

Você cuidou de mim enquanto eu adormecia por ciclos e mais ciclos de aflições intermináveis, nunca imaginei que poderia haver alguém no mundo que poderia me resguardar assim, seu amor me aceitou inteiramente por quem eu sou. Nunca entendi como algo dentro de mim poderia trazer à tona algo tão brutal e animalesco, levando embora meu controle e me deixando à deriva da selvageria, do desejo, da lascívia.

Tive sorte de encontrar meu eixo em meio ao dilúvio que era estar vivo com minhas emoções. Em nossa companhia, encontramos o que era o companheirismo, nos apoiando em uníssono. A atenção sempre presente, o respeito inquestionável, e o cuidado, ah, Acará! Só haveria você no mundo com essa sensibilidade de enxergar tão profundamente.

Agradeço eternamente por poder ter vivido ao seu lado.