Começar

Nefar ouvia o som da flauta de longe, uma canção instigante que acomodava seus ouvidos, preenchia sua alma e trazia uma paz curiosa. Não era somente uma flauta, ele ouvia outros sons que desconhecia. Nefar ainda não conhecia muito sobre Alterya. Tinha vivido apenas alguns ciclos após sua criação. Ele apreciava cada novo conhecimento com tamanha preciosidade.

Ele estava em Auzmen, que pairava sobre sua eterna penumbra. De longe avistou diversas silhuetas dançando contra a luz de uma fogueira naquele pequeno vilarejo. Estava receoso de como as pessoas reagiriam se o avistassem. Nefar nunca foi recebido sem espanto, o consideravam uma figura imponente e de certa forma, assustadora.

A música continuava a tocar, pareciam celebrar algo com grande alegria. Nefar nunca tinha vivenciado isso em sua vida, mas de alguma forma sentiu que gostaria de pertencer àquele lugar, era tão bonito e majestoso. Se encostou em uma árvore observando de longe, tentando de alguma forma ter coragem de se aproximar, não queria estragar o momento daqueles estranhos. Parecia glorioso demais para ser interrompido.

Conforme olhava entre as árvores, ele percebeu o motivo de tanta festividade. Uma criança havia nascido e eles estavam celebrando essa nova vida. Nefar gostaria que seu nascimento tivesse sido tão encantador como esse, embora soubesse de seu propósito grandioso. A música continuava e se estendia pelo véu da noite, como um feitiço que traria somente um grande conforto para aquele vilarejo.

O que aconteceu nos próximos segundos, Nefar nunca conseguiu explicar, sua mente nunca conseguiu reproduzir novamente tamanha atrocidade. O véu escuro da noite foi quase extinguido com a luz que era desferida contra os moradores daquele vilarejo. Um a um eles cairam por essas luzes que tiravam a vida de seus corpos. O que Nefar nunca esqueceu foi a aparência desses blasfêmios que trouxeram somente desgraça para as pessoas que estavam celebrando a vida.

Tudo terminou tão rapido quanto começou, aquelas pessoas, que se pareciam com algo que nunca tinha visto, mas muito belo, começaram a partir. Nefar paralisou por um longo tempo, ainda estava perplexo com toda violência que nunca tinha visto desde sua criação. Foi então que seguiu para o vilarejo, extremamente impressionado que não pouparam nem a criança que havia nascido naquela noite, ele sentia seu estomago revirar.

Depois de caminhar entre os corpos e os destroços, ele encontrou um garotinho. Um rosto que demonstrava somente pavor e medo. Nefar não se aproximou muito do garoto, com medo de assustá-lo, simplesmente se ajoelhou na frente dele. Enquanto lágrimas escorriam de seu rosto, Nefar disse “me desculpe, não pude fazer nada para ajudar, me desculpe pequenino”.

O garoto pareceu se sentir mais confiante e se levantou, mesmo com medo e correu para dar um abraço em Nefar, procurando uma proteção que ninguém mais ali poderia lhe dar. Nesse momento, Nefar reafirmou o que sempre soube que precisaria fazer, entendeu seu propósito nesse mundo e jurou vingança sobre aqueles que não preservassem a vida, agora ele sabia como conquistar o equilíbrio que o mundo precisava. E da terra Nefar criou seus seguidores, assim como foi criado. Dentro de si mesmo ele tinha o conhecimento de como realizar o ritual para isso, que foi passado em seu nascimento pelos seus criadores. Em meio à tanta morte, começaria a vida.

Nefar olhou para o garoto e disse “A partir de hoje, faremos um mundo melhor pequenino, meu nome é Nefar e nós cuidaremos de você”.

O garoto, ainda assustado e com uma expressão um pouco perturbada, apenas acenou uma afirmação em meio às lágrimas que escorriam de seu rosto e respondeu “Meu nome é Rupter”. Rupter caminhou para um dos corpos inanimados no chão, pegou uma máscara rachada de seus antepassados e colocou transpassando em seu pequeno corpo. De seu bolso ele tirou uma flauta, começou a tocar uma melodia que soava como uma despedida, mas com o peso de um doloroso recomeço.

Nefar terminou de contar sua história debaixo de uma grande tempestade e se virou para Nory, que estava imóvel em sua frente – “Foi assim que sua raça exterminou pessoas inocentes, e começando por você, devolverei toda essa violência”. Nefar estendeu sua mão direita com sua palma virada para frente, Nory começou a flutuar no ar, gritando. Nefar pronunciou um encantamento, de repente um raio rompeu entre os dois no mesmo instante e o corpo de Nory foi jogado contra uma árvore, caindo sem vida no chão. Nefar parou por um instante, buscando a certeza de que seu feitiço havia tirado a vida de Nory, então virou-se e seguiu seu caminho, em busca do equilíbrio que ninguém mais poderia trazer à Alterya.

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