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Divisa Arsen – 262 Ciclos Após a Renascença

De alguma forma a floresta estava encoberta por trevas, sua meia luz não era mais a mesma, havia algo obscuro no ar. Os tambores podiam ser ouvidos de longe, sua vibração se deslocava com o vento, que agora estava furioso. A Natureza não parecia estar conivente com isso. Havia um círculo de dez pessoas que estavam com suas mãos estendidas para o companheiro ao seu lado, com suas palmas abertas e voltadas para cima, quase que encostando umas nas outras. Seus cabelos brancos esvoaçavam com a ventania e todos estavam com seus rostos virados para o céu, de olhos fechados. Suas longas túnicas vermelhas não paravam em seus corpos, também inquietas pelo vento aborrecido. Dentro do círculo haviam cinco fogueiras, cada uma posicionada em cima de marcações brancas no solo. O vento não era suficiente para apagá-las, elas crepitavam com ferocidade. Os rituais eram pronunciados em harmonia com a melodia dos tambores, que eram tocados por seres escondidos em meio às sombras das árvores.

Todos continuavam sem parar, não havia uma pausa nos dizeres que sussurravam, estavam devotos ao seu propósito. As chamas das cinco fogueiras começaram a diminuir, como se a terra as tivesse absorvendo, transformando a terra marrom, em um tom avermelhado. Os longos cabelos brancos começaram a ser manchados por um vermelho escuro de forma irregular. Quando todas chamas haviam se apagado, a terra avermelhada no meio do ritual estava emergindo do solo, transformando-se em uma forma humana. As pessoas agora abriram seus olhos amarelos e olhavam fixamente para o humano feito de terra. Ainda com os braços estendidos para seus companheiros, suas palmas agora estavam voltadas para o centro do círculo.

Aos poucos a forma se tornava mais humana, aos poucos ele se tornava um homem. E suas primeiras palavras após seu nascimento foram “Do Barro. Do Chão. Da Terra. Aqui nasce a era dos Insídios. Eu sou Nefar, e trarei o poder da ordem”. Os tambores cessaram e as criaturas sumiram no meio da noite. E com uma reverência de todos os dez desconhecidos, eles se viraram em uma bela sincronia e começaram a seguir seu caminho, como se cada um deles pertencessem aos dez cantos de Alterya.

O corpo de Nefar já estava igual ao de um homem humano nu, sujo de terra, ele era forte e alto, não tinha cabelos, em seu rosto havia um olhar destemido, prestes a derrubar todos os reinos que Alterya já havia conhecido. Ele aprenderia os segredos do mundo, ele invocaria seus irmãos do barro, Nefar havia nascido destinado ao seu futuro glorioso, Alterya precisava de equilíbrio, de salvação, Alterya precisava de Nefar.

E naquela clareira, no meio da floresta da Divisa Arsen, uma nova raça havia nascido pelas mãos dos dez desconhecidos.

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