Começar

Ao caminhar floresta adentro, meus olhos começavam a lacrimejar. Eu e Trist nos encontraríamos na clareira, aquele lugar que havia imortalizado tantos momentos. Me lembro de todos eles, alguns mais vívidos em minha memória, resguardados em seu lugar especial.

Quando cheguei perto da clareira, avistei Trist que me esperava apoiando-se em uma árvore. “Nory”, me disse, com seu sorriso gentil. Seu rosto trazia uma melancolia que foi difícil de se contemplar. Continuei me aproximando, meus dedos encostaram em seu rosto lentamente enquanto seus olhos se fechavam, era uma despedida silenciosa. Nossos rostos se aproximaram um do outro, até nossos lábios se encontrarem, naquele beijo havia o pesar das encruzilhadas do tempo, nos separando.

Paramos de nos beijar e nos olhamos, nos apreciamos por alguns instantes, até que o silencio foi quebrado por Trist. Me disse que embora não pudéssemos continuar nossa história, estaríamos sempre presentes dentro um do outro, sempre conseguimos nos sentir à distância e precisamos lutar para que essa ligação da nossa raça não seja quebrada.

Trist continuou “Nory, você deve cruzar a floresta e procurar por Aloriter, o mago da luminescência. Enquanto eu vou em busca do conhecimento sobre a Renascença. Os insídios estão realizando rituais para acabar com nossas ligações. Não podemos mais viver indiferentes ao que está acontecendo.”

Acenei com minha cabeça uma afirmação, enquanto uma lágrima escorria de meus olhos. As palavras estavam presas dentro de meu coração, eu olhava fixamente para Trist, quase não conseguia piscar. Eu queria vislumbrar aquele momento até seu último instante. Trist me sentia e não havia necessidade de muitos diálogos, e antes de partir, encostou sua mão em meu peito. Novamente destacando em seu rosto aquele sorriso gentil, de alguma forma demonstrando que nos pertencíamos.

Eu não conseguia me mover, parecia que o tempo havia congelado. Eu estava totalmente entregue à essa emoção, uma parte do mundo havia perdido o sentido, um fragmento da minha alma havia se despedaçado. Eu sabia que precisava sair dali, não era seguro ficar na floresta.

Depois de muito prolongar minha partida, eu havia conseguido juntar forças para seguir em frente. Nesse momento percebi que eu não conseguia mover meu corpo, havia alguma melodia em minha mente que eu não tinha notado sua presença. Uma pessoa de flauta, mascarada, apareceu em minha frente, ele parecia feliz e insano, tocando e dançando em volta de mim. Me senti entorpecer, as coisas não faziam mais sentido, não faziam desde que Trist havia ido embora. Será esse o longo abraço da eternidade me levando para outro mundo? Ele parecia carinhoso, eu não sentia dor, só paz, talvez fosse melhor assim, nada mais importava, nada mais existia. E enquanto tudo se apagava, se tornando um grande vácuo escuro, eu só conseguia aceitar o meu destino.

E no eco de minha mente eu ouvia um sussurro ressoar: “Nory…”

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